
Confesso que fiquei muito impressionada com o trailer 3D de Avatar. Era muito nítida a diferença da imagem do filme de Cameron em relação aos outros trailers e ao próprio filme a que fui assistir. A minha sensação em tão pouco tempo (o trailer deve durar uns 2 minutos) é de que a tridimensionalidade mais impressionante é a da construção para dentro da tela – embora, lógico, houvesse, no trailer, muitos objetos e personagens que avançavam em direção à platéia. Penso agora que talvez tenha me sentido como os primeiros espectadores de cinema – há um relato de que no filme Repas de bebe (1895), em que Louis Lumière filmou seu irmão Auguste e sua esposa alimentando o bebê, os espectadores ficaram tão assombrados com o realismo e detalhe da movimentação dos galhos e folhas das árvores em segundo plano quanto com a própria ação registrada. Essa forma de utilizar o 3D, sim, me impressionou, e até empolgou, bem mais que o avançar de personagens e objetos sobre o público. Ampliar a tela plana para dentro tanto quanto para fora parece-me um caminho possível, não apenas um modismo. O trailer de Avatar me fez pensar que talvez seja possível me acostumar com esta visualidade, mais que isso, com esta nova experiência espacial no cinema.
Assisti até o momento a três filmes em 3D digital: Coraline e o mundo secreto, Up – altas aventuras e Tá chovendo hambúrguer. A respeito dos três, posso dizer que foi bem comedido o uso do 3D – não há exageros na projeção para fora da tela. O que acho ótimo, pois, apesar de toda empolgação com o 3D do Avatar, sou daquelas pessoas que gostam de cinema, não de demonstração de computador. Desagradam-me, até me irritam, os filmes feitos apenas para exploração da técnica. Reconheço a necessidade disso para o desenvolvimento de algo novo – afinal, o início do cinema foi também esta experimentação, na base da tentativa e erro e da observação do que dava certo em relação ao público e do que oferecia novas possibilidades e poderia ser incorporado à nova linguagem -, mas prefiro os filmes nos quais os efeitos e a tecnologia estão em função de algo e não de si mesmos.
Coraline

Sim, sou consumidora compulsiva de animação de todo tipo e nacionalidade, desde criança quando não perdíamos sequer uma matinê Disney. Como sou a terceira de quatro irmãos, e tivemos um pai que, possivelmente, gostava mais que os filhos de Quadrinhos e Animação, me tornei espectadora de cinema antes mesmo de entender o que era. Não me lembro do primeiro filme a que assisti, é como se o cinema sempre tenha estado em minha vida, desde sempre.
Não que seja um incômodo enquanto se está assistindo ao filme, mas me ressinto no Coraline de o stop motion parecer computação. Não sei se a tecnologia 3D se sobressai tanto que perturba a percepção de que são bonecos sendo movimentados tão fluidamente ou se a tecnologia 3D na filmagem, na finalização e/ou projeção altera a imagem o bastante a ponto de apagar os traços da técnica de animação de bonecos. O que é uma grande lástima! Acredito que a grande magia do stop motion seja se deixar perceber como uma técnica que movimenta objetos inanimados, sujeitos às leis da gravidade, ao espaço que também habitamos (mas que não permite que objetos se movimentem sozinhos, que ganhem vida). Mas este não é um “problema” só do Coraline. Tive alunos que acreditavam piamente que o A noiva cadáver (2005), de Tim Burton, era pura computação. A excelência na criação de mecanismos de movimentação, de expressão facial, de filmagem e na técnica de animação dos bonecos tem caminhado para um fotorealismo que, paradoxalmente, obscurece essa mesma excelência técnica. Tudo parece digital e o digital anda banalizado.
Up

Um dos melhores momentos do humor do velhinho é de uma cena que aparece já no trailer do filme. Quando acaba de "decolar" e ele está feliz dentro de casa, ouve alguém bater à porta. É o escoteiro. Diante de uma criança apavorada na varanda e que pede para entrar, ele é categórico: Não! E fecha a porta.
Tá chovendo hambúrguer

Diante destas minhas três experiências com os filmes 3D, só resta esperar para ver Avatar. Só para ser a voz dissonante, antes mesmo de ver o filme: o 3D do trailer me impressionou, mas não os seres digitais, os Na´vis. Tenho problemas com este tipo de criação no cinema - Acho que JaJa Binks me traumatizou mais do que pensava.
Sobre o problema da legendagem – isto é, o porquê temos que sofrer assistindo aos filmes 3D digital dublados, leia post do UOL Cinema de 17/03/2009.